Pesquisas
Práticas narrativas no ensino fundamental: interfaces do oral e do escrito

Equipe Executora:
 
Maria Antonia Ramos Coutinho (Coord.)
Lucinete Chaves de Oliveira (Vice-Coord.)
 
Subprojeto:
 
APRENDIZ DE CONTADOR: histórias de vida, narrativas e ficções no ensino fundamental
 
Em uma cidade como Salvador, de base fortemente heterogênea e híbrida, grande parte da população só dispõe do código oral como forma de apropriação e recriação de códigos, valores e identidades, o que torna esse segmento mais exposto a diferentes tipos de opressão, racial ou política, e formas de exclusão social. O sistema formal de ensino confronta-se com o imperativo de contribuir para o letramento desse grande contingente populacional e assegurar a sua inserção na cultura escrita, produzindo espaços de negociação entre os dois sistemas: o oral e o escrito. A prática de contar histórias, advinda da tradição oral, pode constituir-se estratégia importante para a criação de espaços de mediação entre campos e saberes, na complexa tarefa de intersecção entre o mundo escrito e o não-escrito. A sua inserção no quadro das atividades pedagógicas do Ensino Fundamental encerra a possibilidade de desencadear processos de comunicação abertos e dinâmicos e de organizar uma rede de intervocalidade geradora de formas narrativas e de uma economia de trocas e permutas de experiências diversas no plano individual e coletivo. A presença de uma prática tão antiga de comunicação como a narração de histórias, signo da memória cultural, no sistema de ensino, reveste-se de um caráter subversor, na medida em que contribui para que a experiência do imaginário, mobilizada pela voz e pelo corpo, não caia no esquecimento, integrando a soma de conhecimento de extração popular e oral às formas de transmissão adotadas pelas instituições escolares. As abordagens contemporâneas fundadas na utilização da História Oral conferem atenção especial aos microrrelatos, às narrativas dos silenciosos e dos excluídos, à história da vida cotidiana, da vida privada, e às maneiras de ver e de sentir de subjetividades inscritas em contextos sociais geralmente à margem da história “autorizada” e legitimada pelo conhecimento científico e pela sociedade letrada. Numa perspectiva “micro-histórica”, a singularidade das trajetórias individuais ganha relevância e tanto as fontes orais como os documentos escritos tornam-se elementos significativos na produção de conhecimento por alunos e professores. À luz dessas reflexões é que se pretende desenvolver o projeto pedagógico ‘Aprendiz de contador: histórias de vida, narrativas e ficções, no ensino fundamental’ com o objetivo de transformar estudantes adolescentes em pesquisadores das tradições orais, da memória e dos legados históricos de sua comunidade; das histórias de vida dos grupos sociais; do repertório ficcional que habita o imaginário individual e coletivo; e, posteriormente, nos intérpretes que, através da voz, vão partilhar com ouvintes o conhecimento gerado, perspectiva metodológica que pode constituir-se um caminho importante para o letramento social historicamente referenciado no Ensino Fundamental.
 
Período: 2008/2010